O coração wabi reconhece a beleza sabi, e os dois andam de mãos dadas há várias gerações. O filósofo japonês Murato Shuko trouxe uma nova e distinta visão de beleza em 1488. Ela fundia dois conceitos: wabi, significando a melancolia agridoce de sermos nós mesmos (essência) e sermos transitórios; e sabi, traduzido nas marcas do envelhecimento e desgaste que podem realçar um objeto. Murato estava transpondo, em termos artísticos e estéticos, um princípio central do ideal zen-budista da sabedoria: que devemos abraçar sinais do tempo e evidências de imperfeição, seja em objetos, nossas casas, paisagens, nossa carreira ou nós mesmos. Ao apreciar um simples chauan (tigela) rústico ou flores e folhas espalhados desalinhados pelo caminho, estamos sentindo o wabi sabi, estamos em contato com a essência da beleza autêntica, despretensiosa, imperfeita, incompleta e impermanente, que fica ainda melhor justamente por isso. E de forma simbólica estamos fazendo as pazes com nossas naturezas transitórias e imperfeitas.
Wabi-sabi, não está apenas no sentido estético japonês no palco da história, é uma filosofia japonesa que, dentro de um conceito bastante amplo, aborda uma estética centrada na aceitação da transitoriedade e imperfeição.
O wabi sabi de uma pessoa não é o mesmo de outra, porque cada um de nós vivencia o mundo de forma única. Seja na vida pessoal ou profissional todos estamos “quebrados” de algumas maneiras. Enfrentamos estresses, desafios, desilusões relacionais e amorosas, decisões e conversas difíceis… Em vez de esconder o quebrantamento, Wabi Sabi procura fortalecer os espaços danificados, destacar o processo de restauração e aceitar onde estamos e onde sabemos que eventualmente estaremos.
E mesmo em suas travessias de fronteiras e perigos tradutórios, quando recorremos à visão japonesa do wabi sabi, entendemos que assumir nossos erros e mostrar nossas imperfeições é um ato de coragem que nos conecta com o que temos de mais humano e nos lança o desafio de perceber aquilo que é tido como típico e peculiar ao outro como uma parte de nós mesmos que, ainda latente, é despertada pela linguagem universal da natureza, da arte e do amor.
Uma mentalidade wabi sabi pode ser um antídoto útil para aqueles assombrados pelo espectro do perfeccionismo e que precisam superá-lo.
Os ideais ocidentais de beleza juvenil simétrica, ambição acelerada e sucesso material levam muitos a se julgarem de forma muito cruel, o que tem um impacto negativo na saúde mental e consequentemente nas relações.
Wabi sabi nos lembra a beleza da assimetria encontrada em linhas acidentadas traçadas pela natureza, como um litoral rochoso selvagem ou os nós e curvas que formam uma árvore madura.
Além disso, o wabi sabi valoriza uma mentalidade de ‘menos é mais’ que abraça a vida simples com menos desordem, menos pressa e mais tempo, porque uma vez que a realidade da impermanência é compreendida, investimos mais a nossa enrgia no que faz sentido.